segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O quadro por Lais Pimentel - inspirado numa pintura de Edward Hopper

Vinte minutos. Há 20 minutos ela está parada. Será que ela dormiu? Estranho... Minha vizinha da frente estava tão animada, cantarolando e cantarolando alto, para todo mundo ouvir. Acordou cedo, preparou malas, separou um vestido bonito. Escolheu um chapéu bem coquette... Eu estava feliz em acompanhar toda esta preparação. Para onde a levava toda esta explosão de vida? Quem a acompanhava nesta jornada tão alegre?
Pensava nisso quando minha atenção foi desviada para a chegada de um mensageiro no portão da casa dela. A governanta recebe uma carta. Minha vizinha, de corpete colado no corpo – muito ousada ela! – sai do meu campo de visão, saltitante. Some por alguns segundos. Volta. Senta-se na cama com uma carta na mão. À medida que ela lê as palavras recém-chegadas, um cansaço, um torpor, uma sombra de morte, parece tomar conta dela. Minha vizinha não se mexe. Se se mexe, daqui onde estou, não percebo. Nem parece respirar. Será que ela dormiu, desmaiou, morreu?
Agora está ficando chato acompanhar a minha vizinha. A vista que tenho dela parece a de um quadro. E ninguém agüenta olhar o mesmo quadro por 20 minutos.

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