segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Expulso do Paraíso ou Todo fim é um começo

(Gisela)

Dez...
Comecei a entrar em desespero depois de perceber que os movimentos que pareciam apertar as paredes do cômodo tornaram-se mais freqüentes.

Nove...
Tinha a sensação que este cômodo, onde fui feliz nos últimos meses, estava me mandando embora. Por que será que estou sendo expulso? O que eu fiz de errado?

Oito...
Nem sei como vim parar aqui, mas não quero sair. Aqui me sinto seguro, afinal, tenho tudo o que preciso: comida, água, aquecimento e uma voz de fundo que me traz uma paz indescritível.

Sete...
De uns tempos para cá comecei a notar que o ambiente parecia menor e as paredes deslocavam-se de forma a me colocar para fora. No começo, estes movimentos ocorriam com pouca freqüência, no máximo uma vez por dia, mas agora praticamente não param.

Seis...
Lá vem mais um empurrão, muito mais forte desta vez. Sinto as paredes me apertarem e me jogarem para um corredor escuro e muito estreito – aliás, como nunca notei este corredor antes?

Cinco...
Acho que o corredor é estreito demais, não vou conseguir passar por aí, mas as paredes se fecharam e não tenho como voltar. Estou preso e ouço gritos do lado de fora.

Quatro...
Tenho muito medo do que vai acontecer, do que me espera lá fora. Como vou conseguir sobreviver? Será que vão gostar de mim? É a primeira vez que me sinto deste jeito, inseguro e com medo do desconhecido (a primeira de muitas, iria descobrir depois).

Três...
Por outro lado, aqui está ficando mesmo desconfortável. E estou meio cansado da vista. Talvez sair não seja tão ruim assim...

Dois...
Mais um movimento brusco e o próprio corredor parece projetar-me mais alguns centímetros adiante. Vejo uma luz.

Um!
Finalmente saio, começo a chorar. Nasci.

Um comentário:

  1. Adorei, final inesperadamente esperado!!!
    mas bem rapido, hein.. os meus costumam demorar horas...

    ResponderExcluir