sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Hoje acordara a mesma.

Já era tarde, o sol estava alto e as pessoas andavam rapidamente, os pés quase encostando nela. Às vezes se sentia mais próxima dos cachorros, eles pelo menos a cheiravam. Os ossos doíam e a cabeça pesava, a única coisa que colocou no estomago na véspera foi a garrafa de cachaça que comprou, ali mesmo, na rua. Precisava se levantar e ir para a sombra, estava com sede. Com muito esforço caminhou até um banco embaixo da árvore mais próxima. Sentiu o sangue fluir e se alinhou sentada. Olhou ao redor procurando algo para beber. Há poucos metros um menino e sua mãe comiam um lanche. Já sabendo, esperou. Logo jogaram os restos fora. Pegou o que o não queriam e pode matar parte de sua sede. Mais refeita, abriu o saco que carregava com ela, virou tudo no chão. Caíram garrafas vazias, restos de panos, uma escova, tampas de pote e uma boneca loura. Abriu seu sorriso sem dentes e começou a embalar nos seus braços cantando cantigas incompreensíveis. Algumas pessoas perceberam o que se passava e lhe lançaram olhares de compaixão. Ela tão alegre nem percebeu. Foi anoitecendo e a paisagem mudou. O movimento diminuiu, quase não passava ninguém. Mas por sua vez os bancos em volta começaram a ficar ocupados. Alguns rostos ela conhecia. Preferia não ficar lá. Depois de tantos anos estava fraca, era difícil garantir um lugar na praça. Não forças para competir. Se afastou dali e foi caminhando para uma rua quase sem iluminação, escura e tranqüila. Sentou-se, tomando fôlego para mais uma noite. Foi quando percebeu que não estava sozinha. Viu alguém encolhido no chão, chorando. Era uma mulher loura. Foi se aproximando com cuidado, quando estava perto sorriu, era ela, de cabelos louros, a quem embalava todos os dias. Ajoelhou e a colocou no colo como fazia sempre.

Patricia

Nenhum comentário:

Postar um comentário