segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Férias

O gato olha para o passarinho na folha, que tenta ficar em pé. Escorrega. Meu coração se acelera. Para falar a verdade eu não gosto de pássaros e nada que tem penas. Parecem bolas de algodão, macios por fora e vazios por dentro, com pontas finas, bicos e pés quebradiços, tão frágeis como nunca tivessem deixado de ser ovo. Hoje pela manhã vim para a casa da minha tia, liguei para minha prima perguntando o que ela ia fazer. Mais um dia de férias. Ela falou vem para cá. Eu sabia que me convidaria, fiz uma mala, por que quando venho, sempre fico além do que deveria. Meus pais até me visitam, como em uma colônia de férias. Nessa casa cheia de gente, posso escolher, ler fotonovelas da prima mais velha, ir a praia com a prima do meio, brincar na rua com os vizinhos e a prima caçula, minha melhor amiga. Sempre que venho aqui fico sendo mais uma filha. Meus tios tratam todos iguais, nas tarefas e nos luxos, como fazer unha com a manicure que vem em casa. Minha mãe acha que eu sou criança, mas aqui todas fazem. Ontem de noite, depois do pique esconde brincamos de salada mista, foi minha primeira vez. Só pedi pêra e maçã, o garoto que eu gosto é o mesmo que a minha prima caçula, mas não contei para ela. Hoje vou arriscar, quem sabe não caio com ele. O único beijo de ontem foi o que a minha prima do meio deu no menino sebento que mora aqui em frente. Eca. Tomara que hoje os meninos sejam só o meu primo, o amigo dele e os dois irmãos que moram depois da esquina. Vou pedir para minha mãe trazer mais roupas, quero ficar aqui até o fim das férias, lá em casa eu fico sozinha e eles brigando. Ai! O passarinho escorregou! O gato pegou ele com a boca! Não encosto mais nesse gato.

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