segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Felicidade

As bocas se descolaram, deitaram cada um para o seu lado suados. O repertório era conhecido. Bebiam e já no carro a mão subia nas coxas dela, no elevador,mais beijos, o decote desabava, brincavam que não ia dar tempo, fazia parte, entravam sem sapatos para não acordar o filho e iam direto para o quarto.
Se conheciam tão bem que pareciam que adivinhavam o que o outro estava pensando. Ela perguntava por perguntar, muitas vezes já sabia a resposta. Ele por sua vez não perguntava. Quando o viu pela primeira vez corou. Seu irmão levou o amigo novo da faculdade para jantar em casa. Ele comia bonito, mastigava várias vezes, nunca falava de boca cheia e nem colocava o cotovelo na mesa. Fino, como a mãe gostava de dizer. Ele por sua vez reparou na maneira que ela o olhava, variando entre olhos muito abertos e as vezes de lado. Empostou a voz, consertou a postura e pensava bem antes de falar. Assuntos políticos, econômicos, coisas de quem tinha uma opinião sobre o mundo.
A cintura dela, fina, e os seios redondos contrastando com um sorriso de aparelho e sardas, o deixaram desconsertado. Até então só conhecia as mulheres que pagava juntando o dinheiro da mesada, de dois em dois meses, pois fazia questão das mais caras, que também são as mais limpas, dizia seu pai. Aos poucos ela amadureceu, entrou na faculdade e ele esperou.
O casamento foi planejado pelas duas famílias, com gosto. Ela ainda tinha o mesmo rosto e apesar do corpo não ser mais o mesmo, o deixavam enciumado. Podiam dizer que provocavam inveja. O apartamento ganho no casamento ajudou, viviam com folga. Viagem para o exterior, todo ano. A meta deles agora era um carro novo, um jipe, forte e imponente.
Hoje era dia de aniversário de casamento. Os presentes de ambos devidamente comprados em segredo. Ele já tinha planejado levá-la em um restaurante caro, aquele que eles nunca iam. De manhã se beijaram mais demorado do que o habitual, ele cumpriu sua rotina matinal, de terno foi para o trabalho. Ela tomou banho, colocou a roupa de ginástica e foi para a academia.
Mas no trabalho a secretária já tinha sido avisada que ele hoje ia para Barra do Piraí visitar um cliente, mas se a mulher ligasse, falasse que ele estava em reunião, para que não ficasse preocupada com o jantar a noite. Na academia suas amigas, pensaram que ela estava fazendo massagem e depois no salão se preparando para grande noite.
No motel ele abriu a caixa e entregou um anel para a filha do chefe, pois diante a ameaça de contar tudo fora o único jeito de amansar o gênio da menina. Um anel mais bonito que o dela. Ela em uma quitinete, esperava nua com whisky no copo, o amigo da faculdade, que no último reencontro da turma conseguiu tudo o que ela havia lhe negado quando estava noiva. De noite o jantar foi ótimo. Ela linda de preto, comeu ostras de entrada, lagosta no prato principal e souflé de framboesa de sobremesa. Ele de blazer, pediu foie grois, cherne com espuma de alho poró e mousse de chocolate.

Patricia

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