segunda-feira, 12 de outubro de 2009

escuridão

nuvens carregadas pairaram sobre a cidade por todo o dia. saí do trabalho e fui me encontrar com paolo. cheguei ao apartamento dele, uma cobertura em obras, ainda todo detonado. uma parte do teto era de vidro, por onde podia-se observar o reflexo das luzes da cidade nas plúmbeas nuvens baixas. da varanda via-se bem próximo um morro majestoso e o corcovado. bebemos. queríamos sair, não sabíamos pra onde. resolvemos ir a uma vernissage no parque lage a convite de marta. no caminho, situações engraçadas nos faziam gargalhar descontroladamente. a bebida exibia seus primeiros efeitos. pegamos um táxi e quando descemos a chuva era suave. entramos no parque cercado por seus jardins exuberantes. ao fim de uma alameda sinistra repleta de grilos escandalosos atingimos a exposição. o ambiente era inadequado à permanência de muitas pessoas que se espremiam pelos salões. sem a chuva se espalhariam pelos jardins. uma grande mistura de pessoas e estilos incompatíveis dificultaram nossa identificação de que havíamos ou não acertado na escolha. atravessamos as obras. na penumbra de uma das salas, um feixe de luz vindo de um teto alto iluminava uma esfera que pendia e balançava levemente sobre uma serragem vermelha incandescente que continha a circular sombra negra do objeto. após conseguir desvencilhar meu olhar hipnotizado, saímos para o bar que ficava numa tenda ao lado, ainda mais repleta de gente devido à chuva, ao som e aos pequenos sanduíches e bebidas que eram distribuídos. pedi uma cerveja. um anão me serviu. ao seu lado outros tantos, mais de dez. os atendentes eram todos anões. exalavam felicidade e simpatia. paolo conversava em italiano com marta que apareceu subitamente. tentei entender seu diálogo sem sucesso. neste momento desabava um temporal que, aliado à música, evocaram em mim um efeito entorpecedor. a água começou a invadir a tenda pelos lados, por cima, por baixo. sufocado, saí correndo sob a chuva para ver uma instalação que ficava num prédio ao lado. uma sala fechada com uma cortina negra na entrada. dentro, a escuridão absoluta era preenchida por um vento forte e um zumbido agoniante. o escuro me apavora. não sabia se entrava, faltava-me coragem. enfrentei meu pânico e entrei mesmo aterrorizado. alguém esbarrou em mim e um berro gutural jorrou do fundo da minha garganta seguido pelo grunhido estridente de uma mulher ridícula. diversos anões entraram na sala. corriam alegremente ao vento ruidoso, iluminados por seus celulares na sala escura. tinham uma experiência onírica. saindo, encontrei-me com paolo e marta, que coincidentemente estavam lá dentro, ainda assustados com o berro que alguém havia dado. a escuridão, o medo do imprevisível, mexeram com nossas emoções reprimidas. inebriados e encharcados, saímos da exposição e fomos a um restaurante. nas mesas, casais monótonos, grupos de amigos, de animados velhinhos. lá fora o mundo era o mesmo de sempre.
Rogério.

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