Vinho.
Uma palavra, um gesto, um olhar. Um tapa, um tiro, um estranhamento. O motivo não saberia. E ele que era como todos, se tornou como outros. O tempo infinito se condensou no momento presente. O olfato se ficou aguçado e os musculos tensos. A fome se estabeleceu como dor. No espelho se viu, era um espaço vazio. Assustada a memória fugiu. Sózinho e ausente de pensamentos, em um canto qualquer esperava. As paredes suavam. Rastejou, no ouvido, as batidas do seu coração marcavam seus passos. Era guiado pelo doce cheiro de sangue. Final de corredor. Ao chão indefeso, amarrado, amordaçado, estava quem o roubou de si. Com a pedra mais próxima, o golpeou. A cada golpe sentia também a dor. Esperava beber a taça que o ódio como espectador lhe oferecia. Agonizando ao lado de sua vítima viu que a taça estava vazia.
Ar
Tudo se passava agora. O ar se tornou um fato, era anunciado nos jornais. O ar que lhe faltava, estava nas letras, nos peitos de todos, por aí. E ele que tanto cuidou para que seu ar não fosse embora, o via sair pela janela, sustentar asas, planos, tirar chapéus das cabeças, ter uma vida que ele mesmo não tinha se permitido. Quem ele pensava que era? Raiva nada adiantava, já tentara lhe golpear, lhe chamar dos piores nomes, mas cada vez mais ele se ausentava. Estava alheio, rarefeito. Agora sua vingança era lhe desejar mal, , que virasse chuva e se escoasse nos esgotos, que se contaminasse com dióxido e outros óxidos mais. Ah, quando ele quisesse ser puro, teria que lhe procurar, para subirem a serra juntos, até o sitio de sua tia. Mas ele não queria mais, mesmo sabendo que com sua ausência não poderia viver. A liberdade era imperdoável.
Patricia
PRO:
ResponderExcluirUm dos meus preferidos. Reli algumas vezes, achei forte e me passou emoções, ousado e profano, duas coisas que me agradam.
COM:
Tem coração porem as duas estórias poderiam ser uma so, uma vez que usam a mesma estrutura e narrativa, apensar de passar uma emoção, não tem nenhum estória sendo contada.